As Missas nas Capelas do Interior de Barão de Cotegipe

 



As Missas nas Capelas do Interior de 

Barão de Cotegipe


Em cada comunidade de Barão de Cotegipe existia sempre uma capela, que podia ser maior ou menor, conforme o número de famílias moradoras na localidade. A capela administrava  também o cemitério da pequena comunidade e uma cancha de bochas, junto a qual, muitas vezes, podia ter um pequeno bar, que funcionava nos sábados à tarde, aos domingos e em alguns lugares em dias feriados.

As capelas eram administradas por uma diretoria, composta por moradores do local, eleita por um ano, que mantinha estreito contato com a paróquia, na sede do município.

A cada ano o padre visitava esporadicamente cada capela onde rezava missa pelo menos uma vez ao ano, sempre no dia do santo a quem a capela estava dedicada. Ele podia também retornar em ocasiões especiais como batizados, crismas e ainda, quando estava disponível, por motivo de algum falecimento de associados.

Aos domingos, sempre que o padre não vinha, a comunidade realizava um encontro religioso no qual algum dos moradores, geralmente, aquele com mais conhecimento dos ritos católicos, “pregava la corona”, isto é, rezava o terço, juntamente com todos os presentes.

No dia anterior às festas do padroeiro, a capela era o centro de intensa atividade, onde vários grupos de associados, todos voluntários, trabalhavam preparando as refeições a serem servidas no almoço do dia seguinte. Essa atividade muitas vezes só se encerrava na madrugada.

Na manhã da festa, os moradores chegavam em diversos meios de transporte, alguns de vários quilômetros de distancia, e começavam a se concentrar próximos à capela. Alguns aproveitavam a oportunidade para fazer uma visita ao cemitério, ao túmulo dos seus familiares já falecidos. Terminada a breve visita, voltavam a reunir-se com os outros que estavam descansando à sombra de grossas árvores,  esperando pela chegada do padre. Este vinha da sede do município, após já ter oficiado duas missas na igreja matriz, sempre dirigindo a sua velha caminhonete Rural Willys. Geralmente a missa nas capelas estavam marcadas para as onze horas e  terminava por volta do meio-dia, quando então seria servido um grande almoço coletivo, cuja renda era destinada à paróquia e manutenção da capela. O almoço quase sempre consistia de um grande churrasco, adquirido mediante o pagamento e retirada de uma ficha no caixa da capela. A carne e os mantimentos para confecção dos pratos eram quase todos doados pelos associados e o total da renda obtida revertida para a capela e para a paróquia.

Quando a caminhonete do padre era então avistada ao longe, ainda na estrada em cima do morro, começavam a tocar o pequeno sino do campanário, uma construção também em madeira, tal qual o prédio da própria capela.

Os fiéis ordenadamente começavam a entrar no pequeno templo, já se separando os homens das mulheres, logo ali na entrada, mantendo-se assim para tomarem os seus bancos para sentar. 

Em ambos os lados do altar ficavam as imagens de dois grandes anjos alados, os quais seguravam cada um uma grande vela.  À frente de cada anjo ficava uma fileira de bancos. O anjo da esquerda era de cor azul e o da direita cor de rosa. Os homens se sentavam nos bancos frente ao anjo azul e as mulheres e crianças frente aquele cor de rosa. 

Os bancos eram aproximadamente em número de vinte, variando muito conforme o comprimento da capela. 

Este interessante costuma de separação por sexo, para assistir as missas, ainda se podia encontrar no decorrer dos anos 1990.

Naquela época as missas sempre eram rezadas em português e não mais em latim, e duravam por volta de uma hora, ou pouco mais, conforme a inspiração do padre. Durante o sermão muitas vezes conforme era a etnia de proveniência do padre, ou ainda conforme a predominância étnica dos fiéis daquela determinada capela, este poderia falar em italiano – na realidade sempre era em talian, o dialeto vêneto-brasileiro, língua criada no Rio Grande do Sul pelos imigrantes. Em outros lugares o sermão poderia ser em polonês, já que esta etnia também era muito presente em Barão de Cotegipe e em alguns municípios vizinhos, 

Cada capela tinha orgulho de organizar e manter um pequeno coral, que acompanhava o padre durante o desenrolar da missa. Esses corais se rivalizavam com os de outras localidades. Era sempre formado por homens e mulheres da localidade, orientados e regidos por um deles, que tinha mais conhecimento de música. Muitas vezes acrescentavam um violão e mais frequentemente um acordeão.

Após terminada a missa os presentes se dirigiam para o local onde seria servido o churrasco. Naquele tempo era sempre ao ar livre, em volta de uma grande churrasqueira. Não havia mesas para todos, assim cada família se acomodava como podia, no chão mesmo, embaixo de grandes árvores, com o grande espeto de madeira cravado no gramado. Como expliquei, o churrasco era adquirido antes da missas e o comprador recebia uma ficha com o número do espeto adquirido. As bebidas também eram adquiridas no pequeno bar anexo a cancha de bochas ou em um outro local improvisado.

A seguir se podia ouvir a grande cantoria, que grupos de amigos improvisavam, rivalizando-se para ver quem cantava mais alto. As mulheres se reuniam, um pouco mais afastadas dos homens para conversarem e se inteirar das novidades das outras famílias. 







 


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