Nos anos finais da década de 1960, Guatapará destacava-se como a localidade mais carente de Barão de Cotegipe, situada à distância considerável da sede do município. Embora abrigasse apenas poucas famílias, a presença de numerosas crianças tornava imperativa a realização de campanhas de vacinação. Na ausência de um posto de saúde em Barão de Cotegipe naquela época, uma tarde de sábado testemunhou a iniciativa solidária de um grupo, composto por mim e algumas irmãs do hospital, que se uniram em um mutirão para administrar vacinas de forma gratuita a essa população marginalizada. A partir desse momento, comprometemo-nos a realizar anualmente essa campanha, estendendo a mão solidária à comunidade de Guatapará. Persistimos nesse esforço constante até que, alguns anos mais tarde, testemunhamos a instalação do tão aguardado posto de saúde na cidade de Barão de Cotegipe. Essa conquista não se deu sem considerável empenho e uma árdua batalha política junto ao governo estadual em Porto Alegre. Foi necessário um esforço incansável, marcado por negociações estratégicas, articulações políticas e uma firme defesa da necessidade vital desse posto de saúde para a comunidade de Barão de Cotegipe. Superando obstáculos e desafios, nosso compromisso persistente resultou na realização desse projeto, representando não apenas um marco na infraestrutura de saúde local, mas também uma prova tangível do poder da mobilização comunitária e da advocacia política em prol do bem comum. O Porto de Saúde representou não apenas o progresso em termos de acesso à saúde preventiva, mas também uma mudança significativa na qualidade de vida para os habitantes, encerrando a necessidade de nossas intervenções regulares e evidenciando o impacto positivo de iniciativas dedicadas à promoção do bem-estar comunitário. Foi durante os primeiros dias no hospital que percebi a alarmante incidência de casos de difteria, tétano e coqueluche originados precisamente de Guatapará. Motivado por essa constatação, decidi envolver o hospital nessa nobre empreitada, que realizávamos nas tardes de sábado. A obtenção das vacinas necessárias foi possível graças à colaboração da delegacia de saúde de Erechim, cujo diretor elogiou e apoiou entusiasticamente nossa iniciativa em prol da saúde da comunidade. Ao seguir pela estrada em direção a São Valentim, ao alcançar o "Embu", a orientação era dobrar à direita na via que conduz a Itatiba do Sul. No ponto próximo à localidade de Wawruck, quase em frente à grande casa de comércio dos amigos Flório Rigotti e Casimira, virava-se à esquerda, revelando uma estreita e sinuosa estrada, em sua maioria em declive, que nos guiava até as proximidades da pequena comunidade, composta por algumas casas. Após percorrer essa estrada delicada, com a tração nas quatro rodas ativada na quase nova rural Willys do hospital, atravessamos "potreiros" sem trilhas definidas, contornando tocos de árvores cortadas há tempos, superando íngremes lombadas e conduzindo entre algumas vacas magras, diretamente sobre a grama do pasto ralo. A cada momento, um membro do grupo precisava descer para abrir e, posteriormente, fechar algumas porteiras que se interpunham em propriedades particulares ao longo do caminho. Este trajeto desafiador culminava em uma experiência que exigia habilidade e determinação para alcançar o destino desejado. Ao chegarmos ao povoado, iniciamos prontamente a aplicação das vacinas que havíamos trazido, seguindo um calendário cuidadosamente planejado em colaboração com a professora da única escola local. O desafio era considerável, dada a quantidade significativa de crianças que necessitavam ser vacinadas, mas, felizmente, concluímos o trabalho antes do previsto, pois todos já aguardavam ansiosos na pequena escola. Alguns membros do grupo aproveitaram a oportunidade para atravessar para o outro lado do rio, utilizando uma "pinguela" precária e perigosa, suspensa por fios de aço, deixando a camionete para trás. Era imperativo estender a vacinação também às crianças que residiam naquela margem do rio, já pertencente ao município vizinho de São Valentim. Guatapará, embora não me lembre se fosse oficialmente um distrito — o que parece improvável devido às dificuldades de acesso —, era um agrupamento de modestas habitações, todas muito simples, ao redor de uma escola e de uma pequena capela, ambas construídas em madeira e desprovidas de pintura, assim como as moradias circundantes. Os habitantes eram pequenos agricultores, enfrentando inúmeras dificuldades para manter uma vida digna. Sua produção limitava-se à subsistência, e o pouco que conseguiam extrair daquele terreno pedregoso destinava-se exclusivamente às despesas cotidianas, geralmente liquidadas na casa de comércio do povoado de Wawruck.