Um Domingo Surpreendente no Interior de Barão de Cotegipe


Num ensolarado domingo de novembro de 1969, os meus pais tinham vindo de Curitiba, me presenteando com sua visita. Naqueles agradáveis 15 dias, repletos de compromissos, fomos cordialmente convidados para um almoço na residência de um casal de amigos, há muito estabelecidos como comerciantes, residentes na zona rural de Barão de Cotegipe. A promessa desse dia transbordava de prazer, carregando consigo a perspectiva de uma típica culinária do interior e momentos descontraídos. Partimos em torno das 11h30, enfrentando uma estrada de cascalho que, mesmo sendo pouco frequentada, sob a inclemente luz do sol, levantava nuvens douradas de poeira ao vento. A irregularidade da pavimentação proporcionava uma viagem tumultuada, mas nossos corações ansiavam pela companhia calorosa dos amigos e pela festa gastronômica que nos aguardava. À nossa frente, desenrolava-se uma paisagem rural ondulante, com pequenos campos verdes e maciços de mata que se estendiam nas elevações e declives das colinas, até onde os olhos podiam alcançar. 
Ao chegarmos à propriedade, deparamo-nos com um diversificado armazém que também funcionava como bar. Nos bastidores do armazém, estendendo-se em comunicação direta, situava-se o modesto e acolhedor lar do casal anfitrião.
Efusivos cumprimentos nos saudaram, guiando-nos até a mesa farta, repleta de iguarias sedutoras: galinha ensopada, massa caseira, polenta frita, suculento pernil de porco e saladas frescas, um verdadeiro banquete digno de um domingo especial. Contudo, a serenidade foi abruptamente interrompida no apogeu do almoço. Um indivíduo notoriamente embriagado, cliente assíduo do bar, envolveu-se em uma acalorada discussão com outro frequentador. A atmosfera inicialmente amigável rapidamente se metamorfoseou em um palco de intensa tensão e medo. No ápice do momento, ecoaram gritos estridentes, acompanhados pelo estrondo de móveis sendo arremessados violentamente. Nesse caos, uma adaga foi desembainhada, cortando o ar como uma ameaça iminente. O tumulto momentâneo ecoou pelo recinto, enquanto os presentes tentavam assimilar a inesperada reviravolta. Os anfitriões, visivelmente surpresos e preocupados, apressaram-se para acalmar os ânimos e restabelecer a ordem diante do caos que começava a se desencadear. O aroma da polenta frita agora mesclava-se com a tensão, transformando o almoço em uma narrativa imprevista, digna das reviravoltas dos melhores enredos. Enquanto os presentes processavam o ocorrido, a refeição permanecia intocada, e as conversas retomavam seu curso com um toque de cautela. A tarde prosseguia, marcada pela sombra daquela ocorrência singular. O sol continuava a banhar a paisagem, mas agora sua luz revelava não apenas a beleza natural, mas também a complexidade das relações humanas. Ao nos despedirmos da propriedade, fomos agraciados com um presente extraordinário daquela família: um adorável filhote de cachorro, com pouco mais de três meses, da raça pastor alemão, ao qual demos o nome de Rusty, que nos fez companhia por diversos anos. Deixando para trás a estrada de cascalho, ficou claro que o domingo, inicialmente destinado à celebração e amizade, transformou-se em uma jornada imprevisível. O convite para um almoço simples no interior de Barão de Cotegipe se metamorfoseou em uma experiência singular, onde a vida, assemelhando-se à estrada poeirenta, revela-se repleta de surpresas inesperadas.