As Parteiras e o Tétano dos Recém Nascidos



Quando cheguei a Barão de Cotegipe no início de setembro de 1969, uma das coisas que mais me chamou a atenção foi o elevado número de óbitos de recém-nascidos no município e na região do Alto Uruguai. Os índices eram verdadeiramente alarmantes. Decidi investigar as causas dessa epidemia e, ao longo de algumas semanas, pude identificar a principal delas. Era bastante evidente: a falta de vacinação antitetânica das gestantes, que raramente faziam os exames pré-natais. Além disso, na região, era comum as mulheres grávidas darem à luz em casa, assistidas por parteiras, conhecidas como "comadres" ou "cegonhas", muitas delas analfabetas, que, com boas intenções, auxiliavam no parto. Algumas eram muito famosas e solicitadas, sendo que esse ofício era geralmente transmitido de mãe para filha ao longo de gerações. Percebi que, com algumas dessas parteiras, os casos de tétano eram raros, enquanto com outras, a maioria, essa grave doença era frequente. Durante entrevistas com essas senhoras, que vinham ao hospital acompanhando gestantes, procurei identificar as causas dessa situação calamitosa. Não foi difícil descobrir o culpado pelos óbitos dos recém-nascidos. O problema não estava apenas nos precários cuidados de higiene pessoal das parteiras ou na falta de manejo adequado durante o parto. Notei que a maioria delas também trabalhava na lavoura, entrando em contato com terra contaminada pelo esterco de animais. O hábito de lavar e desinfetar as mãos, assim como cortar as unhas regularmente, não era comum entre elas. Ao realizar o parto, a maioria não utilizava luvas nem desinfetavam adequadamente as mãos, aumentando o risco de infecções pós-parto, que, por vezes, levavam à morte das mães. Entretanto, o que mais me chocou nessa pesquisa foi o verdadeiro causador da onda de tétano neonatal: o uso indiscriminado de barbantes ou cordões sem esterilização para amarrar o cordão umbilical dos recém-nascidos. As parteiras simplesmente pegavam um pedaço de barbante de bolsos ou sacolas contaminadas e o utilizavam diretamente no coto umbilical do bebê, sem nenhum preparo ou esterilização. Assim que identificamos a principal causa, entrei em contato com a delegacia de polícia local e expliquei a situação das mortes dos recém-nascidos. Com o apoio do delegado, começamos a exigir que todas as parteiras do município passassem por um pequeno curso de reciclagem para continuar exercendo a profissão. Aquelas que se recusassem e tivessem casos de óbito por essas causas seriam processadas e presas, correndo o risco de serem impedidas de continuar na profissão. Além disso, em colaboração com as irmãs do hospital, organizamos um curso gratuito para ensinar às parteiras medidas básicas de higiene e como identificar casos complicados, especialmente partos prolongados, para que não hesitassem em trazer a gestante para atendimento médico no hospital o mais rapidamente possível. Em pouco tempo, observamos uma redução significativa nos casos de tétano neonatal e uma melhoria na rapidez com que os casos de parto complicado eram encaminhados para atendimento hospitalar.