Um Inesperado mas Agradável Reencontro

 




Numa tarde no consultório, enquanto dedicava-me ao atendimento dos meus pacientes, deparei-me com uma situação de urgência que acabara de chegar do Povoado Wavruck, uma pequena localidade do município de Barão de Cotegipe, na estrada para Itatiba do Sul. O motorista, já meu conhecido, aguardava ansiosamente na entrada do hospital. Tratava-se do amigo Tomazzelli, que frequentemente prestava solidariedade, conduzindo seus vizinhos para atendimento médico em seu antigo caminhão, carinhosamente apelidado por mim de "tanque de guerra". Cumprimentou-me com seu característico sorriso largo e, imediatamente, informou que, desta vez, tratava-se de uma criança pequena gravemente queimada. Após acomodar todos na sala de exames, deparei-me com o pequeno paciente nos braços da mãe, cujos olhos lacrimejavam intensamente devido às dores insuportáveis que o afligiam. Era uma família de pequenos agricultores de origem polonesa. A mãe, visivelmente aflita, explicou que, ao preparar o almoço, seu filho Vitorio, de apenas quatro anos, puxou uma panela com água fervente do fogão. A criança foi atingida no peito, barriga, braços e pernas, resultando em várias queimaduras de primeiro e segundo graus que abrangiam aproximadamente 40% de sua superfície corporal. Durante o exame, observamos a presença de pasta de dente sobre as bolhas, erroneamente utilizada pelos agricultores como unguento, prática comum naquela época, especialmente em comunidades rurais. A dificuldade em remover a pasta agravava a dor durante a limpeza e desbridamento da ferida, revelando os desafios enfrentados devido a métodos inadequados de tratamento naquele contexto. Diante da extensão dos ferimentos, a significativa quantidade de bolhas e pele morta, e especialmente a tenra idade do pequeno Vitorio, decidimos realizar uma anestesia geral. Sua hospitalização estendeu-se por mais de 15 dias, pois demandava dois extensos curativos diários que não poderiam ser adequadamente administrados em casa. Recebeu alta completamente curado, porém carregando cicatrizes marcantes, especialmente no peito. Desde então, nunca mais o havia encontrado. Recentemente, em Erechim, onde resido, mais de 40 anos após esse atendimento, decidi realizar uma pintura de manutenção em minha casa. Para a tarefa, contratei um pintor recomendado pelas excelentes referências que recebi. Enquanto trabalhava, ele compartilhou que nasceu em Barão de Cotegipe, mas reside em Erechim há mais de 30 anos, desde que se mudou com a família. Ao perguntar se me conhecia, já que eu também havia morado e trabalhado lá, ele não se recordava de mim, mas prometeu consultar o pai, que morava próximo. No dia seguinte, com um sorriso no rosto, ele ergueu a camisa, revelando as marcantes cicatrizes no peito e na barriga provenientes da antiga queimadura, perguntando se agora eu o recordava. Ao compartilhar sua história, gradativamente fui lembrando daquele pequeno de olhos azuis, chorando assustado nos braços de sua mãe, lá no hospital de Cotegipe.